Arquivo para janeiro \16\-03:00 2009

Lua-de-mel canibal

Carlinhos tinha 12 anos e era muito experto. Esses meninos de hoje já sabem de todo o bê-á-bá, só não entendia uma coisa, como os canibais namoravam. Na escola tinha receio de perguntar a professora com medo de ser expulso da classe. Passou o tempo e Carlinhos nunca se conformou com aquela dúvida, agora com mais idade e aparentemente com mais juízo, que alguns desconfiavam claro, começou a pesquisar e conversar com outras pessoas tentando resolver o enigma que tinha desde criança, só que os outros não davam muita atenção às suas conversas.

Leu muito sobre o assunto e viu até o Hopkins no cinema, como o Doutor Hannibal Lecter, no antigo clássico, só não se conformava como ninguém questionava os relacionamentos amorosos desses canibais. Até que um dia, depois de umas doses de uísque, encontrou um amigo que aceitou o diálogo, no mínimo por que não batia bem da cabeça, tinha tomado umas duas e já passava das onze horas de um sábado. 
– Oh João, quando um canibal diz que vai comer a mulher, ele fala em sentido figurado, ou tasca o dente mesmo?, pergunta Carlinhos.
João sem compreender direito as palavras do amigo, e vendo tudo em dobro, replica.
– Agora Carlinhos, imagine a confusão se o canibal tiver um paladar aguçado, e ficar sem saber se o melhor é comer ou “comer” a companheira.

O bate-papo rolando, já pelas três da manhã e a garrafa do uísque escocês, 12 anos, perto do fim, toca o telefone de Carlinhos. Era a sua mulher perguntando a que horas ele chegaria em casa. Recém-casado, tinha voltado da lua-de-mel há algumas semanas. Ele atende, diz que está apenas na saideira e que logo estaria em casa.
João que encontrava com o amigo pela primeira vez desde o casamento, questionou.
– Agora imagine a Lua-de-mel de um canibal?
E Carlinhos.
– Fodeu, casou, “comeu” e enviuvou.

Coquetel do Pará

acaiNão sei bem a combinação. Levando em consideração o nome, imagino que, no mínimo, tenha amendoim, guaraná e Açaí. É uma refeição completa, dessa que deixa a maioria dos mortais com medo, não do tamanho do copo, mas do tamanho do corpo depois de ingerir 500 ml e o copinho extra. Só que para alguns, isso não é problema.

A cidade litorânea é o cenário para descansar e tomar um “suquinho leve” ao fim de mais um dia de trabalho. Ela, a magrelinha, que caminha as noites para aproveitar o seu tempo precioso e desfrutar dos sabores do Pará, é uma das que não sofre desse problema. Certo dia, depois do pôr-do-sol e de mais um sorriso renovado, a barriga ronca e ela pede alguma coisa para fortificar o esqueleto e acaba no balanço do Pará. Todos alimentados a essa altura, uns só de ouvir a música,  e ela de tomar o copinho extra, deixando a dúvida para a Melodia que diz só, não sei, enquanto ela dança ao ritmo de Calipso.

Uma nova refeição

saojorge2Algumas vezes a comida não desce bem, não necessariamente pelo preparo ou nem pelo tempero. E o dia se passa com toda aquela angústia no peito e uma dor no estômago de quem sente que algo irá acontecer. A convicção nos caminhos pode ser um aviso, a conversa com a outra parte do seu coração que de tão presente sente a mesma dor, foi um alerta. A ausência do Santo guerreiro protetor, que naquele momento tentou fazer-se presente de todas as formas garantiu a segurança do seu protegido, que agora só tem a agradecê-lo.

Deus põe a comida na mesa com o melhor tempero, só que às vezes não percebemos a sua combinação de sabores, mas os seus pratos servem de inspiração para melhorarmos o preparo de nossas vidas e termos paciência para apreciarmos melhor as refeições. Depois de todo o susto e da comida que não desceu bem, aproveito o espaço para agradecer a oportunidade de contar mais uma história e preparar o melhor banquete para os amigos e familiares que completam a minha mesa. Obrigado a todos.

As curvas do amor

Depois de apreciar uma receita afrodisíaca com ostras e camarões, ao lado da morena com o quadril acentuado e o corpo lembrando as curvas de um violão, Marcos, músico de carteirinha, segue o caminho da estrada procurando inspirações para uma nova canção.  

Durante o percurso, ao som do seu antigo ídolo que cantava as curvas da estrada de santos, Marcos, por descuido, perde o controle do veículo, derrapa e sobra na curva que fica próxima a um motel. Ele no auge da sua produção musical não perde tempo. Entra no motel, ao lado daquela morena, toma uma ducha para relaxar e agarra o violão (de cordas). 

A morena, já sentindo os “efeitos calorosos” das ostras apreciadas pela manhã, fica irritada e sem entender aquela situação, reclama: – querido, afinal o que viemos fazer aqui. Ele, que durante a ducha já vinha pensando na melodia, para não perder muito tempo, toca a nova canção inspirada nas curvas do amor e depois sem dizer uma palavra, larga o violão e agarra a morena, que a essa altura já estava encantada com a bela melodia. 

A música não fez sucesso nenhum, os dois se entenderam bem, a noite terminou quente e a imagem é só para ilustrar.

acurvadoamor

Um jantar com catupiry

Em uma certa noite de verão, ele procurou a melhor forma de retirar a sua amada de casa. Estava com o estômago roncando e com aquele frio na barriga pelo desejo de reencontrá-la.  Sem conhecer os cardápios da região, a certeza era que mesmo se a comida não fosse boa, a noite teria que ser cálida, agradável e um tanto romântica, era o que esperava.

Sem saber ao certo o que fazer e onde levá-la, resolveu pegar a estrada e percorrer vários quilômetros em busca de lembranças antigas e de um jantar inspirador ao lado dela, misteriosa e imprevisível, mas linda, fatal e sempre sem deixar o encanto de lado. Enquanto as mãos mexiam geladas e o destino se aproximava, o nervosismo era um tanto visível.

Chegando lá, um filme passava com as velhas memórias na cabeça, e compartilhar aquele momento fazia com que eles se aproximassem. A partir daí aconteceu o inesperado, quando tudo caminhava para dar certo, ele olhou para ela no meio da multidão e percebeu que o tempo tinha passado e ela estava faminta (e todos sabem que mulher faminta é pior que jiló), aguardando aquele inspirado jantar a quilômetros de distância.

Olhando para um lado e para o outro, percebendo que a realidade não era tão inspiradora como na Champs-Élysées e que as barrigas precisavam ser ocupadas, entraram na lanchonete mais próxima e apreciaram uma suculenta coxinha de frango com catupiry, no meio de várias pessoas passando e fazendo barulho. O embaraço foi mútuo, os dois caíram na gargalhada de barriga cheia e o jantar ficou para um próxima oportunidade.


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