Arquivo para novembro \26\-03:00 2008

A mesa ao lado

Conversa de bar é sempre saborosa, não apenas pelo pão de alho e a cerveja gelada, mas pelo que se fala, se ouve e se vê. Todos acabam comendo com os olhos. Uma idéia surge, as piadas divertem, e entre petiscos e “goladas” quando se percebe que o assunto da mesa ao lado é sobre mulheres tudo fica mais agradável. Nessas noitadas, em que todos estão entre companheiros, já passaram da meia-noite e cinco ou seis cervejas foram apreciadas, o palavreado acontece com mais naturalidade.

Histórias do passado circulam entre as idéias, inspirando até os pequenos escritores a escreverem em seus blogs, compositores a comporem as melhores músicas e o mestre-cuca a não errar o tempero do pernil com molho de laranja. É diversão garantida, com um sabor de quero mais, até a próxima refeição, deixando os leitores do blog, com desejo de escutar a inspiração do compositor e ficar com água na boca pelo assado com laranja. O conteúdo da conversa nem o escritor lembra direito, pois como disse anteriormente: já passaram da meia-noite e cinco ou seis cervejas foram apreciadas. O melhor de tudo é aguardar o próximo momento de ouvir a conversa da mesa ao lado.

O olho que tudo come

Foto: Carlos Nealdooolho

A pequena Isa completava oito anos naquele dia, e as suas amiguinhas da escola esperavam a grande festa, com muita brincadeira, doces e guloseimas. De todas as idades, chegavam uma a uma. O pai de Isa, um animador de festa nato, ajudou a organizar o festejo e preparou muitas surpresas para as visitantes. Mais surpreso ficou o festeiro pai, quando uma amiguinha de sua filha de apenas três anos não aceitou o pirulito em forma de olho. Declamou: – Eu não quero que esse pirulito olhando para o meu estômago.

Pastelzinho companheiro

Mário é um desses caras preocupados com o peso, nem gordo e nem magro, mas com uma insegurança que não consegue nem passar próximo a uma balança. Seu pecado: não resiste a nenhum tipo de fritura, “pastelzinho de vento” então, é o preferido.

Certo dia, passando próximo a uma dessas barraquinhas onde o cheiro de óleo domina todo ambiente e o vendedor é descolado, divertido e um pouco acima do peso, percebe que as pessoas que estão fazendo um lanche rápido estão sempre acompanhadas, inclusive ele. Seu amigo alto e magro, resolve comer dois ou três pastéis e ele com estomago na mão, pede um. Entre uma mordida no queijo derretido e na massa fina, vem a reflexão: Será preciso sair só para não virar um saco cheio de frituras e perder o sabor de dividir as palavras? Assim, rejeitando um bom papo para manter a balança equilibrada ou se render aos encantos da gula?

Mário não perde tempo, apesar da grande dúvida, é decidido na palavra: – Faz mais dois com queijo e calabresa. E a conversa rola a tarde inteira.

Atlântico (e suco de) laranja

Foto: Jorge CarlosAtlântico Laranja

Às cinco e meia da manhã, após uma jornada dupla de trabalho, o estômago pedia um café da manhã reforçado. O destino era o mercado do Jaraguá. Fechado, a macaxeira com carne de sol ficaria para a próxima oportunidade. Na companhia do amigo e compositor Wado, segui o caminho do Atlântico (praia de Ponta Verde). O pedido: suco de laranja e sanduíche de atum, a comida era boa, a conversa inspiradora e o cansaço visível.

Um pai, uma refeição

Em uma dessas reuniões para colocar a conversa em dia, e ainda por cima arrumar uma desculpa para comer em um bom restaurante, dois amigos se encontraram para confraternizar, afinal um deles tinha acabado de ser pai e vivia esse período de descoberta. Falaram sobre trabalho, filmes, mulheres e entre uma garfada e outra, sem perceberem, estavam dividindo experiências. A comida regional era bem servida.

***

O grande dilema do futuro pai, ainda acostumado com os dengos da mamãe, é se na hora das compras, o iogurte que ele vai escolher é aquele do rotulo amarelo ou o mais nutritivo para o seu filho. Quando a resposta estiver se aproximando da segunda opção, quem sabe ele pode pensar em ter um filho um dia.

***

Durante o lanche, entre o olhar no sanduíche de atum e a pizza de mussarela na mesa do lado, percebi algo incomum. Pai e filho sentados, a pizza na mesa, e uma pessoa comendo. A cena: A pizza chega, o pai corta um pedaço e coloca no seu prato. E o garoto, por volta de 7 anos, fica observando o pai saborear a pizza e só depois de duas ou três garfadas é que o paizão compartilha a sua refeição com o filho. Se o garoto estava com fome? Não importa.

Salgadinhos selecionados

Carlinhos sai de casa pela manhã esperando que o dia fosse como qualquer outro, três refeições, comida caseira e algum lanche durante o intervalo. Tímido, mas sempre sorridente, chega à escola mais cedo, encontra os amigos e logo se encaminha para a aula de ciências. Durante a aula, enquanto a professora falava em mitocôndrias e respiração celular, Carlinhos só sentia o cheiro das guloseimas da lanchonete da escola, até que olha para o lado e percebe que a marcinha estava lá, no canto direito da sala, perto da janela e em frente ao balcão da lanchonete.

A Marcinha, loira e magrelinha, de uma doçura comparável a um pudim de leite, percebe as olhadas e joga todo o seu charme para cima do rapaz. Carlinhos, todo vermelho e com suas células já sem respirarem, não via a hora de tocar o sino para sair daquela situação. No intervalo, ele se recompondo da sua cara de tomate, decide conquistá-la pela barriga e vai à lanchonete comprar algo para a garota, mas como sabia que ela era doce mais não era mole não, queria algo especial.

No meio do caminho, sem resistir aos encantos da prateleira de doces, ele se derrama nos prazeres da gula e não resiste ao pecado. Come duas fatias daquela torta saborosa que só a tia Maria sabe fazer. Satisfeito, ele olha para o relógio e sem lembra da Marcinha, paga o seu lanche e percebe que não lhe resta quase nenhum dinheiro. Mesmo assim junta os “miúdos” e se depara com salgados, esfirras, croissants, enroladinhos e pãezinhos recheados da lanchonete.

Apesar da diversidade, Carlinhos não tinha como escolher, pede alguns salgadinhos de queijo e vai à procura da garota. Envergonhado, ele encontra a doce Marcinha, suas pernas começam a tremer, seu estômago embrulhado, não pelas fatias da torta, e sem saber o que dizer, pergunta:

– Aceita esses salgadinhos selecionados que trouxe para você?

Orgasmo engarrafado

Inesperadamente, em uma noite de novembro, quatro amigos se reuniram na busca de algo mais quente que um sarapatel servido no almoço e encararam a digestão em uma longa noitada com a batida dos DJs. O ambiente era bom, as pessoas aparentemente bem nutridas, pois mostravam disposição àquela dança que faziam os corpos mexerem. E como numa balada não é muito comum se deparar com um cardápio daqueles de encher o bucho, nem recomendado porque o balanço não cai bem.

Um deles procurou na cachaça mineira tranqüilizar a ansiedade enquanto os outros preferiam a boa e velha cerveja gelada. Depois de um tempo, sem aparecer aquele clima de azaração, o camarada da esquerda percebe que no cardápio de recinto existe o prazer pela inusitada quantia de R$ 5 reais, é sim, lá orgasmo é engarrafado e custa barato. A noite caminhava, a música soava bem e o bom camarada pedindo várias dozes da bebida e tendo orgasmos múltiplos.

Desejos da gula

Passeando pelos desejos da gula, no dia do aniversário do escritor, entre doces, salgados e aquele azeite italiano que não lembro o nome, mas cuja acidez era de 0,5%, senti o quanto a amizade anda diretamente ligada ao prazer de saborear uma bela refeição ou um bolo coberto com chocolate e cerejas. Entre abraços, desejos de sabedoria, felicidade e prosperidade, uma fatia ali, uma “roubadinha” de cereja aqui, e a balança virtual aumentado de tamanho. Estavam todos felizes e agora mais satisfeitos.

Na tarde mais intimista e sentindo ainda os abraços dos amigos no estômago, o jeito foi apelar para aquele velho salmão, que se desmancha na boca, e a salada com brócolis, para esquecer o chocolate granulado, sentindo-se mais leve. Ainda assim não dando por satisfeito, precisava de mais, a dúvida era mais o que? Um cheesecake de sobremesa ou a ligação de um amigo que nunca mais bebeu caipirinha no boteco da esquina.

A certeza era que de barriga cheia ou não a presença dos amigos ajudam a digestão e são nutrientes para a refeição saudável. E no fim do dia entre as pessoas que ainda chegam pra comemorar a nova primavera, entre presentes e risadas, tudo acaba em pizza.


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